domingo, 12 de outubro de 2014

Oração pela humanidade


Meu amigo, junte-se a mim afirmando em voz alta esta oração de elevada vibração pela humanidade:

Querido Universo, Fonte, Espírito, Eu Sou, Deus, Om (todos estes ternos possuem o mesmo significado, por isso sinta-se confortável para usar aquele com o qual melhor se identificar)

Quão encorajador e capacitante é saber que tu e eu somos UM.

Que a vida que flui através de cada célula e fibra do meu ser é a mesma vida que flui através de toda a humanidade e através de todas as plantas e de todos os animais. A mesma vida que flui através da Mãe Terra, de todos os planetas, de todas as estrelas, de todas as galáxias, de todos os universos e mais além.

Desta unidade, eu venho pedir à vibração do Amor Divino que se ative completamente dentro dos corações e mentes de cada ser que foi, é, ou será parte deste lindo planeta em que nós habitamos.

Que este Amor Divino possa ancorar-se rapidamente e gerar o Balanço Divino nos nossos corpos físico, emocional, mental e espiritual, para que consigamos testemunhar uma rápida mudança a partir do estado atual em que o mundo se encontra, para um outro repleto de amor em todos os lugares.

Eu estou consciente que com isso, a nossa família global também experienciará o maior florescimento de paz a que alguma vez assistiu – um estado no qual celebrar o amor que sentimos uns pelos outros e em cada um de nós fará parte das nossas vidas diárias.

Eu estou profundamente grato/a em saber que esta oração já se começou a revelar das formas mais incríveis, a começar deste preciso momento!

Alegremente envio esta oração ao universo sabendo que está a ser concretizada!

E assim é! Mostra-me.

Namasté 

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Saber comunicar – “Quero falar-te dos meus sentimentos”



“Quero falar-te dos meus sentimentos”. Foi assim que a comunicação começou.

Comunicar é como jogar andebol. Eu atiro a bola e tu apanha-la. Depois, tu atiras a bola e eu apanho-a. E, outra vez, eu atiro a bola...

“Quero falar-te dos meus sentimentos.” Foi assim que a comunicação começou.
Tal como precisamos de atirar a bola para trás e para a frente para jogar andebol, precisamos de falar uns aos outros dos nossos sentimentos para comunicar.

Se estamos demasiado perto ou excessivamente afastados uns dos outros, não é fácil jogar andebol. A comunicar é o mesmo. Se estivermos muito perto ou demasiado afastados dos nossos amantes ou dos nossos amigos ou de um filho ou dos nossos pais, não será fácil comunicar com eles.

A comunicação não começa com ambas as pessoas a falar ao mesmo tempo. O primeiro gesto tem de partir de uma delas. Alguém tem de atirar a primeira bola.

Mas você pode não querer ser o primeiro a atirar a bola – pode querer esperar que alguém lha atire. (Porque quando a atira e ninguém tenta apanhá-la, fica infeliz.)

Há alturas em que se sente inesperadamente rejeitado. Há alturas em que atira a bola, querendo jogar andebol com outra pessoa, e acaba por ver essa pessoa atirar a bola a uma terceira.

Habituamo-nos desde cedo a que algumas pessoas não ouçam o que lhe queremos dizer. “Agora estou ocupado”, dizem elas. “Falaremos mais tarde, está bem?” E assim, acabamos por pensar “Afinal o que eu digo não interessa”. É por isso que é preciso ter a coragem para ser o primeiro a atirar a bola.

Algumas vezes, quando finalmente arranjamos coragem para atirar a bola a outra pessoa, ela desvia-a para o lado. Alguma vez isto lhe aconteceu? Ou lançamos uma bola com toda a nossa alma, e a pessoa a quem atiramos devolve-a com um pontapé... Alguma vez isso lhe aconteceu? Ou atiramos uma bola muito rica e muito grande, que nos é devolvida muito mais magrinha... Alguma vez isso lhe aconteceu?

Já alguma vez disse a si próprio, “Em vez de atirar a bola eu mesmo, e ser infeliz, é melhor não a atirar nunca e esperar que alguém ma atire”? Mas e se ninguém a atira...?

Você não é o único a ser inesperadamente rejeitado, a receber a bola de volta, intocada, a ser infeliz. Talvez dê também pontapés nas bolas algumas vezes, e faça alguém infeliz, sem saber que o está a fazer!

Todos nós queremos que as bolas que atiramos sejam aceites. Todos nós queremos ter alguém que ouça o que temos para dizer. Todos nós queremos que os outros saibam que existimos. Mas quem é que realmente está pronto para aceitar todos aqueles que querem que os outros dêem por eles?

Se a pessoa a quem atiramos uma bola com toda a nossa alma a apanhar, e se nós apanharmos a bola que essa pessoa nos lança de volta, então um acto de comunicação acontece. Mas às vezes sentimos, “Ele não a apanhou do modo como eu queria que o fizesse!” Ou, “Não há maneira de eu poder apanhar a bola que ele me atirou!”. Há sempre infelizmente muitas tentativas de comunicação que não chegam a concretizar-se…

Quando as comunicações não concretizadas se acumulam, as nossas emoções tornam-se instáveis. Tornamo-nos triste, preocupados, zangados, preconceituosos, pouco amigáveis. E, de vez em quando, explodimos... Então, pouco a pouco, chegamos a um ponto em que não sentimos nada... E mais tarde ou mais cedo, estamos sós.

Se a pessoa a quem atirámos a bola não a apanhou como queríamos não a culpemos por isso. Talvez seja simplesmente porque ela não é uma boa jogadora de andebol. Talvez seja só porque estava nervosa e a mão lhe escorregou. Talvez seja só porque a nossa bola era demasiado pesada.

Se o seu patrão ou os seus pais ou o seu parceiro nunca o deixam dizer de sua justiça, como é que isso o faz sentir-se? Se, pelo contrário, lhe atiram três ou quatro bolas ao mesmo tempo, como é que isso o faz sentir-se?

A sua capacidade de comunicar pode ser avaliada pela reacção da pessoa com quem está a tentar comunicar. Mesmo que você não o queira admitir.

Há uma boa e uma má maneira de comunicar.
Trocar comunicação é uma boa maneira de comunicar. Não trocar comunicação é uma má maneira de comunicar. É igualmente mau trocar alguma coisa que parece comunicar – mas que, na verdade, o não é.

O que significa parecer comunicar? Falar somente sobre o tempo, ou sobre desportos, ou sobre o sexo oposto é parecer comunicar. Falar somente do papel que desempenhamos na vida (como alguém mais velho, como professor, como jovem, como marido, como esposa) é parecer comunicar. Quando se trocam banalidades apenas parecidas com comunicar não se corre o risco de aparentar solidão ou sentir dor. Não temos de nos preocupar com sentimentos ou raciocínios inesperados. Mas também não experimentamos a alegria súbita e irresistível – ou o sentimento de estarmos realmente vivos.

Se o comportamento da pessoa com quem se está a comunicar não muda, quer dizer que não houve realmente qualquer comunicação entre vós. Houve apenas jogos sociais. A verdadeira comunicação gera sempre um novo comportamento.

Há uma diferença entre comunicar com pessoas e simplesmente confirmar relações existentes entre elas. As relações tornam-se rígidas. Comunicar pode mudar isso.

Que tipo de relações quer ter?

Uma das dificuldades que há em comunicar é que sempre que dizemos que queremos ser amigos de alguém, estamos, na verdade, apostados em mostrar a essa pessoa que somos um pouco melhores do que ele ou ela é.

Que espécie de relacionamentos quer ter com outra pessoa? Um relacionamento unilateral? Querem ignorar-se um ao outro? Jogar com brutalidade? Ou esconder os vossos sentimentos?

“Se ao menos eu fosse melhor do que ele ou ela” diz você. Sem nos apercebermos disso, usamos muitas vezes a comunicação como um meio de competir. Lembre-se porém: Só se atinge um novo nível de comunicação com aquilo a que pode chamar-se compreensão. As pessoas mudam o seu comportamento quando se sentem compreendidas.

Gostar de outra pessoa não é necessariamente compreendê-la. Se há uma pessoa de quem simplesmente não goste, esforce-se por conhecer primeiro o “eu” que não gosta dessa pessoa. A forma como conhecemos outra pessoa coincide inteiramente com a forma como nos conhecemos a nós próprios.

Conhecer é saber ouvir o que a outra pessoa está a dizer.
“Quero falar sobre os meus sentimentos”, pode você dizer, “mas ninguém me ouve.” Não é o único que pensa isto muitas vezes. De facto, isso é o que acontece sempre que as pessoas tentam usar a comunicação para competir, em vez de conhecer.

Enquanto pensar que a capacidade para comunicar é idêntica à capacidade para falar, nunca experimentará um sentimento de união com outra pessoa. A capacidade para comunicar depende da capacidade para fazer a outra pessoa falar – e da sua capacidade para ouvir o que ela está a dizer. Só se ouve verdadeiramente quando se ouve tudo o que a pessoa está a dizersem julgar, ou negar, ou comparar essa pessoa connosco.

Se se está verdadeiramente a ouvir, e se está preparado para compreender, será fácil para a outra pessoa falar. Mesmo que a bola seja difícil de apanhar, ou tenha sido atirada debilmente, se fizer o seu melhor para a apanhar... consegue!

Não conseguirá apanhar nenhuma bola se se limitar a esperar. Se está pronto realmente para conhecer, dê um passo em frente. Use o seu corpo todo. Estenda a sua mão e descubra o que está mesmo à sua frente.

Se pensa que compreender outra pessoa significa concordar com tudo o que ela diz e faz, a compreensão não será fácil.

Conhecer significa ouvir tudo o que a outra pessoa tem para dizer a tomar o que a outra pessoa diz pelo seu valor facial.

Se há compreensão, pode ter-se pensamentos diferentes, interesses diferentes, sentimentos diferentes – e ainda assim estar juntos.

Quando o conhecimento ocorre, atinge-se um outro patamar de comunicação. Quando um determinado patamar de comunicação se cumpre, sentimo-nos um pouco aliviados.

Quando duas pessoas se encontram pela primeira vez, ambas estão nervosas. O problema não é o nervosismo. O problema está em tentar escondê-lo.

Às vezes, você preocupa-se tanto em atirar bem a bola que esquece a preocupação e age como se nada estivesse errado. Ou preocupa-se tanto em apanhar bem a bola que esquece a preocupação e age como se nada estivesse errado. No próprio instante em que deixa de agir como se nada estivesse errado, começa a conhecer-se a si mesmo. Somente depois de você se conhecer a si mesmo pode ocorrer a verdadeira comunicação.

“Quero falar-te dos meus sentimentos.” No momento em que começar a sentir deste modo, começa a atirar bolas que são fáceis de apanhar. (É impossível que alguém que não tenha jogado muitas vezes andebol apanhe bolas rápidas e em curva, mesmo que queira muito consegui-lo. Se a pessoa com quem está a jogar não estiver pronta para o conhecer, atire-lhe uma bola que seja fácil de apanhar.)

Vivemos graças à comunicação. Quando a nossa comunicação com alguém se altera, a nossa relação com os outros muda também. Tal como muda a nossa relação com o trabalho e a nossa relação com a vida. Até a nossa relação connosco mesmos mudará igualmente.

“Quero ouvir-te falar dos teus sentimentos.”
É assim que a comunicação começa.



MamoruItoh




quinta-feira, 22 de maio de 2014

O despertar dos anjos

Era uma vez uma Menina, dos olhos cheios de luz, que vivia debruçada na janela do seu quarto, encantada com tudo que ela podia enxergar dali.

Se o dia era de sol, seu coração brilhava e ela dançava com a descontração e a leveza de um passarinho, irradiando a beleza da mais linda flor.

Se o dia era de chuva, ela deixava que o seu olhar se aprofundasse nas gotinhas de água, maravilhando-se com as cores que via e brincando com elas, como se fossem um caleidoscópio a formar mandalas de infinitos padrões.

Se o dia estava nublado, seus olhos atravessavam as nuvens e iam surpreender os Anjos do Céu na sua eterna paz e alegria. E, na sua fantasia, via-se como um deles, brincando naquele tapete fofinho de algodão e divertindo-se com eles.

E assim, não havia dia feio para a Menina dos Olhos de Luz. Mas... sempre existe um mas, não é?.… Tinha uma coisa que ela não gostava e que fazia com que ela fechasse imediatamente a janela do seu quarto. Eram as ventanias. A Menina tinha horror de ventania!

Até que num certo dia de sol, ela estava tão distraída olhando o movimento das nuvens que a cada instante formavam desenhos diferentes no céu, que não percebeu a leve brisa que se aproximava. A brisa foi chegando devagarzinho e foi ganhando força… mais força… mais força! E finalmente transformou-se numa ventania!

A Menina ficou tão apavorada, que não conseguia fechar a janela, e então se encostou à parede do fundo do seu quarto e lá ficou, estática, como se estivesse prestes a ser atacada pelo mais terrível monstro. 

Foi aí que ela começou a notar uma coisa interessante. Bem na frente da sua janela, havia uma árvore, e o vento era tão forte que ela se dobrava de tal forma que alguns galhos entravam no quarto da Menina. Para seu espanto, ela percebeu que, num desses galhos havia pequeninos seres de asas que estavam se divertindo a valer com aquele movimento todo. Conforme o galho subia, descia e se retorcia, eles se balançavam, davam cambalhotas e piruetas e riam a mais não poder!

A Menina até começou a achar aquilo engraçado, mas mesmo assim não tinha coragem de se desgrudar daquela parede. Então, de repente, um daqueles seres minúsculos voou para dentro do quarto e ficou pairando bem na frente do nariz dela! A Menina arregalou os olhos, irradiando um facho de luz tão forte, que quase nocauteou o pequeno ser.


Depois de alguns instantes de susto de ambas as partes, o ser de asas olhou bem dentro daqueles olhos luminosos e falou:

- “Sabe por que você não gosta do vento?”

A Menina ficou mais espantada ainda, porque não sabia como aquela coisinha podia saber que ela não gostava do vento. Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, a resposta soou como um trovão:

- “Porque você tem medo que ele a leve para fora deste quarto, deste seu mundinho particular, onde você se sente segura e invulnerável!”

A Menina não disse nada, mas ficou pensando… e enquanto pensava, reparou como aquele ser pequenininho se parecia com a Fada Sininho do Peter Pan. E então começou a simpatizar-se com ela! E se abriu num maravilhoso sorriso, que fez a Fadinha quase chorar de emoção.

- “Querida Menina dos Olhos de Luz.” – ela falou, mudando totalmente o tom de voz – “Você tem tanta beleza para oferecer ao mundo lá fora e, no entanto, fica aqui dentro, escondida, satisfazendo-se com os quadros que se apresentam na frente da sua janela. Você não gostaria de saber o que acontece mais além destes arredores?”

A meiguice da Fadinha conquistou a Menina, que então criou coragem e respondeu:

- “Sim, eu até gostaria. Mas, acho que não posso sair por aí sozinha… eu nem saberia para onde ir. Não conheço nada aí fora.”

- “Pois eu conheço tudo! E posso levar você para dar um passeio rápido por aí!”

- “Como?!” – a Menina perguntou, curiosa – “Você é tão pequenininha, não poderia me carregar. E acho que você não tem carro... Mesmo que tivesse, eu não caberia dentro dele.”

- “Mas eu sei voar… e você também pode aprender, se quiser!”

- “Eu?! Voar?! Como, se eu não tenho asas?”

- “Você pode voar nas asas do Vento.”

A Menina foi ficando cada vez mais interessada e, aos poucos, na sua imaginação, o Vento foi perdendo aquela roupagem de vilão e vestindo uma nova fantasia – a fantasia do amigo mágico e amoroso que a levaria para conhecer o mundo em total segurança.

A Fadinha voou para junto da janela e chamou:

- “Venha um pouco mais perto, para que o Amigo Vento possa alcançar você.”

Querendo e, ao mesmo tempo, não querendo ir, a Menina deu uns passinhos tímidos em direção à janela. Seu coração dizia: “Vá!!!”. Sua cabeça dizia: “Não vá! É perigoso!”. E suas perninhas não sabiam a quem obedecer.

Finalmente a Fadinha resolveu acabar com aquele impasse e, sacudindo suas asinhas, emitiu um som forte e estridente e então, num piscar de olhos, surgiu um batalhão de pequeninos seres alados, que rodearam a Menina, voando em volta dela numa velocidade fantástica!

Eles voavam tão rápido, tão rápido, tão rápido, que acabaram formando uma espécie de rodamoinho que conseguiu elevar a Menina do chão.

“Oh!!!” – a Menina exclamou, entre temerosa e maravilhada com aquela mágica e com a sensação de estar pairando no ar.

Mantendo aquele movimento incrivelmente rápido, os pequenos seres de asas levaram a Menina até bem junto da janela. Então o Vento conseguiu estender as suas asas e delicadamente apanhou a Menina, que soltou mais um gritinho, misto de medo e satisfação.

- “Pronto!” – exclamou a Fadinha, batendo palmas – “Agora podemos partir! Amigo Vento, por favor leve-nos para conhecer o mundo!”

Aos poucos a Menina foi relaxando, até se sentir completamente à vontade naquela situação. Mais do que à vontade, ela se sentia feliz! Livre! Sentia que estava realizando um sonho que nunca ousara sonhar! Olhou então para a Fadinha com os olhos cheios de gratidão. E mais uma vez a Luz dos seus olhos quase fez com que o pequeno ser perdesse o equilíbrio. As duas deram risada!

E lá foram elas, viajando nas asas do Vento, sobre as montanhas, os vales, os rios, as  florestas, as cachoeiras… Tudo era novidade para a Menina, que estava encantada com tantas coisas maravilhosas que ela não conhecia! O coração da Menina estava vibrando de alegria e contentamento!

Mas, depois de mostrar todas as coisas lindas que existem no mundo, o Vento começou a sobrevoar as cidades, os lugares mais povoados e então a Menina percebeu que havia alguma coisa pesada ali, alguma coisa que não combinava com a beleza de todo o resto. E o seu coração se encheu de melancolia!

- “O que está acontecendo aqui?” – ela perguntou – “Por que está tudo cinza, se o sol está brilhando? De onde vem essa falta de alegria?”

A Fadinha não respondeu, deixando a Menina a sós com seus próprios pensamentos, esperando que ela mesma chegasse a alguma conclusão. A Menina pensou, pensou, pensou, e finalmente disse:

- “Amigo Vento, você pode me levar mais perto das pessoas deste lugar?”

A Fadinha sorriu e o Vento imediatamente atendeu o pedido da Menina. Ao ver as pessoas mais de perto, uma expressão de surpresa estampou-se em seu rosto!

“São todos Anjos!” – ela exclamou, quase gritando – “Mas por que estão se esforçando tanto? Não se parecem com aqueles Anjos que moram no Tapete de Algodão lá do Céu, e que vivem rindo e brincando o tempo todo. Estes aqui estão preocupados! Uns estão até brigando com outros por causa de alguma coisa que um quer e o outro também… O que aconteceu com estes Anjinhos?!” – A Menina perguntou, quase chorando.

E a Fadinha docemente lhe respondeu:

- “Eles se esqueceram que são Anjos.”

- “Esqueceram? Como? Eles não têm espelho em casa?”

- “Têm. Mas quando eles se olham no espelho, eles não enxergam o Anjo que eles são, eles enxergam pessoas cheias de defeitos e dificuldades.”

- “E quando eles olham para os outros? Não vêem que os outros são Anjos?”

- “Não. Eles vêem a mesma coisa que enxergam no espelho. Eles vêem outras pessoas com os mesmos defeitos que eles … e, às vezes, até mais defeitos ainda!”

A Menina não se conformava com essa situação: - “Como foi que isso aconteceu? Que coisa horrível! Alguma bruxa malvada colocou um feitiço neles?” 

- “Não, queridinha. Eles mesmos inventaram essa brincadeira.”

- “Isto é uma brincadeira?!” – a Menina perguntou, incrédula.

- “É que eles estavam achando muito monótona aquela vida no Tapete de Algodão e resolveram fazer uma experiência diferente. Então, vieram aqui para baixo e começaram a fingir que eram gente. Aí começaram a trabalhar para viver e começaram a inventar um monte de necessidades – coisas que eles achavam que eram importantes para eles poderem viver bem aqui na Terra. E cada vez que conseguiam uma coisa importante, eles inventavam outra mais importante e então tinham que trabalhar mais duro para conseguir aquilo também. Aí começaram uma competição para ver quem tinha mais coisas importantes e começaram a achar que quem tinha mais coisas importantes também se tornava mais importante que os outros... isso foi um jogo que eles inventaram.”

A Menina ficou pensativa... e então perguntou:

- “E quando vai acabar esse jogo?”

- “Isso depende deles.”

- “Mas, se eles se esqueceram que são Anjos, devem ter se esquecido que isso é um jogo. Devem estar achando que isso tudo é de verdade.”

- “É isso mesmo que está acontecendo.”

“Então, vamos contar para eles!” – a Menina falou, achando que tinha tido uma ideia maravilhosa. Mas, a Fadinha sorriu e disse:

- “Eles não acreditariam em nós.”

A Menina franziu as sobrancelhas e ficou pensativa de novo. Então, subitamente, um lampejo de alegria brilhou nos seus olhos e ela falou:

- “Amigo Vento, por favor, ponha-me no chão. Quero olhar nos olhos dessas pessoas.”Mais uma vez a Fadinha sorriu satisfeita e o Vento, mais do que depressa, atendeu o pedido da sua querida amiguinha.

A primeira pessoa que apareceu foi um senhor de uns 70 anos, que estava muito bravo com uma criança que estava fazendo uma gritaria por causa de um brinquedo que uma outra criança tinha na  mão.

A Menina chegou bem junto do senhor e olhou-o diretamente nos olhos. Ele quis tirá-la da sua frente, porque estava realmente nervoso, mas ela se manteve firme olhando para ele. Finalmente ele voltou-se para ela e perguntou:

- “O que você quer, Menina? Não está vendo que está me atrapalhando?”

Mas, antes que ela respondesse, ele reparou nos olhos dela. Ele nunca tinha visto uns olhos tão luminosos! E quase ficou hipnotizado por aquele olhar! Quando finalmente passou aquele ofuscamento, ele começou a ver uma imagem dentro dos olhos da Menina. E ficou muito curioso, porque parecia que ele estava reconhecendo a imagem que via. Ele olhou, olhou, olhou e, de repente, pulou para trás de susto!

- “Estou vendo um Anjo aí dentro!” – ele gritou, apontando para os olhos da Menina.

A Menina sorriu e não disse nada, simplesmente colocou-se na frente dele outra vez. Ele não resistiu à tentação de olhar outra vez nos olhos dela. E conforme foi olhando, sua expressão foi se suavizando, se suavizando, se suavizando… até que ele se abriu no mais belo sorriso que a Menina já tinha visto aqui na Terra.

- “Estou vendo a minha própria imagem nos seus olhos, Menina! Eu sou um Anjo!… Claro! Como fui me esquecer disso?!”

A Menina não cabia em si de contente!

“Deu certo!!!” – ela gritou para a Fadinha – “Eu sabia que ia dar certo! Se eu estava vendo que ele era um Anjo, ele também ia conseguir ver isso nos meus olhos!”

“E você também é um Anjo!” – o senhor falou, abraçando a Menina carinhosamente – “O mais lindo Anjo que eu já vi na minha vida, porque me fez lembrar de uma coisa tão importante e que eu tinha esquecido há séculos!”

O menino que estava gritando pulou no colo do avô, surpreso com a sua mudança repentina:

- “O que aconteceu com seus olhos, vovô? Eles parecem dois faróis de automóvel!”E antes que o senhor pudesse responder, ele se viu refletido nos olhos do avô como um lindo Anjinho de Luz. E se lembrou:- “Somos todos Anjos! Vamos para casa contar para a mamãe e o papai!”

As pessoas que estavam passando por ali pararam, curiosas para ver o que estava acontecendo de tão especial. E ao olharem para aqueles olhos luminosos também viram o reflexo da sua própria imagem angelical e logo se lembraram de quem eram.

E assim, cada um que se lembrava ficava com os olhos tão luminosos quanto o da Menina e aí podia olhar para outros e vê-los como Anjos e estes, por sua vez, ao olharem para eles, viam-se como Anjos também. E um foi olhando para outro, que foi olhando para outro, que foi olhando para outro... até que todo mundo acabou se lembrando!

E o que aconteceu, então? Aconteceu que os Anjos se lembraram que estavam simplesmente brincando e que estavam usando a Terra como um imenso palco, onde cada um estava fazendo um papel. E chegaram à conclusão que essa brincadeira já tinha durado demais, que todos tinham desempenhado perfeitamente seu próprio papel e que já estava na hora de voltarem a viver a sua vida real – a vida de Anjo.

Então começaram a tirar suas fantasias. E esse foi um momento muito solene, tão solene que até os Anjos do Céu – aqueles que continuavam vivendo no Tapete de Algodão – vieram para assistir e aplaudir seus amigos corajosos que tinham passado por tantas experiências difíceis na Terra.

Os primeiros a tirar a fantasia foram os que faziam papel de doentes. E, ao deixarem  aparecer os Anjos saudáveis que eles realmente eram, foram entusiasticamente aplaudidos por todos.

Em seguida, os que faziam papel de pobres e famintos tiraram essa fantasia e deixaram aparecer os Anjos  perfeitos que eles realmente eram. E todos os outros os aplaudiram.

Depois os que faziam papel de bandidos e criminosos também tiraram a fantasia e se mostraram como os verdadeiros Anjos de Luz que eles eram, recebendo um aplauso comovido de todos os outros.

E assim, um por um, os Anjos foram se despedindo dos seus velhos papéis e voltando a ser os seres perfeitos, de pura Luz que sempre foram.

E então, os Anjos do Céu alegremente os convidaram a voltar para o Tapete de Algodão. Mas eles gentilmente agradeceram e disseram que não, porque agora eles tinham um novo Lar, o planeta Terra, este planeta tão querido que os acolhera com tanto amor durante tantos séculos! Agora era hora de retribuir todo esse carinho, cuidando amorosamente deste planeta e criando aqui um lugar de Paz, Amor e Alegria, como o Tapete de Algodão de onde eles tinham vindo.

Os Anjos do Céu mais uma vez cumprimentaram seus queridos amigos da Terra e lhes deram os parabéns pela sua decisão tão sábia, prometendo ajudá-los em tudo que eles necessitassem para atingir o seu propósito.

E foi assim que a Terra se transformou em um Planeta de Luz, Harmonia e Perfeição...

E todos viveram felizes para sempre...




Por Vera Corrêa